Dritter Aufzug
Terceiro Ato

(Tristans Burg in der Bretagne. Burggarten. Zur einen Seite hohe Burggebäude, zur andren eine niedrige Mauerbrüstung, von einer Warte unterbrochen; im Hintergrunde das Burgtor. Die Lage ist auf felsiger Höhe anzunehmen; durch Öffnungen blickt man auf einen weiten Meereshorizont. Das Ganze macht den Eindruck der Herrenlosigkeit, übel gepflegt, hie und da schadhaft und bewachsen. Im Vordergrunde, an der inneren Seite, liegt Tristan, unter dem Schatten einer grossen Linde, auf einem Ruhebett schlafend, wie leblos ausgestreckt. Zu Häupten ihm sitzt Kurwenal, in Schmerz über ihn hingebeugt und sorgsam seinem Atem lauschend.)

(O jardim do castelo de Tristão, na Bretanha, no alto de um rochedo. De um lado, construções altas do castelo; do outro, um parapeito baixo, interrompido por uma torre. Em segundo plano, o portão do castelo; através das aberturas pode-se ver o mar e o horizonte ao longe. Tudo dá a sensação de abandono. Em primeiro plano, do lado interno, está deitado Tristão, à sombra de uma frondosa tília, dormindo num divã estendido. Junto à cabeceira encontra-se Kurwenal, sentado, curvado sobre ele e prescrutando atentamente sua respiração.)

32 33 34

SZENE I

CENA I

Der Hirt, Kurwenal, Tristan.

O pastor, Kurwenal, Tristão.

(Von der Aussenseite her hört man, beim Aufziehen des Vorhanges, einen Hirtenreigen, sehnsüchtig und traurig auf einer Schalmei geblasen. Endlich erscheint der Hirt selbst mit dem Oberleibe über der Mauerbrüstung und blickt teilnehmend herein.)

(Vindo do lado externo, enquanto a cortina se abre, ouve-se um instrumento de sopro tocado tristemente por um pastor. Finalmente o próprio pastor vai aparecendo, por cima do parapeito, e olha simpaticamente para dentro.)

HIRT

PASTOR
(leise)

(em voz baixa)

 

 

 

 (Kurwenal wendet ein wenig das Haupt nach ihm)

(Kurwenal gira um pouco a cabeça para ele)

Kurwenal! He!

Kurwenal! Hei!
Sag, Kurwenal!

Diga, Kurwenal!
Hör doch, Freund!

Escute, amigo!

  

Wacht er noch nicht?

Ainda não está acordado?32

KURWENAL

KURWENAL
(schüttelt traurig mit dem Kopf)

(abana tristemente a cabeça)

Erwachte er,

Se acordasse,
wär’s doch nur

seria apenas
um für immer zu verscheiden:

para nos deixar para sempre:
33 erschien zuvor

a menos que antes
die Ärztin nicht,

a curandeira apareça,
die einz’ge, die uns hilft. –

a única, que nos ajudaria. –
32 Sahst du noch nichts?

Ainda não viste nada?
Kein Schiff noch auf der See?

Nenhum navio no mar?

HIRT
PASTOR

34 Eine andre Weise

De um outro jeito
hörtest du dann,

você ouviria,
so lustig, als ich sie nur kann.

a mais alegre que eu conheço.
Nun sag auch ehrlich,

Agora diz honestamente,
alter Freund:

velho amigo:
was hat’s mit unserm Herrn?

o que há com nosso senhor?

KURWENAL
KURWENAL

 

 

 

 

 

 (Der Hirt wendet sich und späht, mit der Hand überm Aug’, nach dem Meer aus)

(o pastor vira-se e inspeciona o mar)

Lass die Frage:32

Não me pergunte:
du kannst’s doch nie erfahren.

você não compreenderia.
Eifrig späh;

Continue vigiando,
und siehst du ein Schiff,

se vir um barco,
so spiele lustig und hell!

toque algo alegre!!

HIRT
PASTOR

(Er setzt die Schalmei an den Mund und entfernt sich blasend)

(põe o instrumento na boca e afasta-se tocando)

Öd und leer das Meer! 34
Desolado e vazio está o mar!

TRISTAN

TRISTÃO
(bewegungslos, dumpf)

(imóvel, apático)

34 Die alte Weise;

A antiga melodia; –
was weckt sie mich?

o que desperta em mim?

KURWENAL

KURWENAL
(fährt erschrocken auf)

(levanta-se assustado)

Ha! 

Ah!

TRISTAN

TRISTÃO

(schlägt die Augen auf und wendet das Haupt ein wenig)

(abre os olhos e gira um pouco a cabeça)

Wo bin ich?

Onde estou?

KURWENAL

KURWENAL

Ha! Diese Stimme!

Ah! Essa voz!
Seine Stimme!

A sua voz!
Tristan, Herre!

Tristão, meu senhor!
Mein Held! Mein Tristan!

Meu herói! Meu Tristão!

TRISTAN

TRISTÃO

(mit Anstrengung)

(com esforço)

Wer ruft mich?

Quem me chama?

KURWENAL
KURWENAL

Endlich! Endlich!

Finalmente! Finalmente!
Leben, o Leben!

Vida, oh, vida!
Süsses Leben,

A doce vida
meinem Tristan neu gegeben!

voltou ao meu Tristão!

TRISTAN

TRISTÃO
(ein wenig auf dem Lager sich erhebend, matt)

(levantando-se um pouco no leito, abatido)

Kurwenal – du?

Kurwenal, é você?
Wo war ich?

Onde eu estava?
Wo bin ich? 35

Onde estou?

KURWENAL
KURWENAL

Wo du bist?

Onde estás?
In Frieden, sicher und frei!

Em paz, seguro e livre!
Kareol, Herr:

Em Kareol, meu senhor.
kennst du die Burg

Não reconhece o castelo
der Väter nicht?

dos teus antepassados?

TRISTAN
TRISTÃO

Meiner Väter?

Dos meus antepassados?

KURWENAL
KURWENAL

Sieh dich nur um!34

Olhe à sua volta!

TRISTAN
TRISTÃO

35 Was erklang mir?

O que ouvi?

KURWENAL
KURWENAL

Des Hirten Weise

A melodia do Pastor
hörtest du wieder;

ouviste outra vez,
am Hügel ab

ao pé da colina
hütet er deine Herde.

ele pastoreia o teu rebanho.

TRISTAN
TRISTÃO

Meine Herde?

Meu rebanho?

KURWENAL
KURWENAL

Herr, das mein’ ich!

Senhor, é o que digo!
35 Dein das Haus,

Tua casa,
Hof und Burg!

a fazenda e castelo.
Das Volk, getreu

O povo tão fiel
dem trauten Herrn,

ao querido senhor,
so gut es konnt’,

tão bem quanto pôde,
hat’s Haus und Hof gepflegt,

cuidou da casa e fazenda,
das einst mein Held

que meu herói no passado
zu Erb’ und Eigen

por herança e propriedade
an Leut’ und Volk verschenkt,

presenteou ao povo,
als alles er verliess,

quando tudo abandonou,
in fremde Land’ zu ziehn.

para mudar para terra estranha.

TRISTAN
TRISTÃO

In welches Land?

Para que terra?

KURWENAL
KURWENAL

Hei! Nach Kornwall: 12

Para Cornualha,

kühn und wonnig

valente e alegre,
was sich da Glanzes,

onde o brilho,
Glück und Ehren 13

da felicidade e honras
Tristan, mein Held, 

Tristão, meu herói

hehr ertrotzt!

nobremente conquistou!

TRISTAN
TRISTÃO

Bin ich in Kornwall?

Estou na Cornualha?

KURWENAL
KURWENAL

Nicht doch: in Kareol! 32

Não, em Kareol!

TRISTAN
TRISTÃO

Wie kam ich her?

Como aqui cheguei?

KURWENAL
KURWENAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  



(Er schmiegt sich an Tristans Brust)

(encosta-se ao peito de Tristão)

Hei nun! Wie du kamst?

Como o senhor chegou?
Zu Ross rittest du nicht;

Não veio a cavalo;
ein Schifflein führte dich her:

um barquinho o trouxe para cá:
doch zu dem Schifflein

mas para a barca
hier auf den Schultern

aqui sobre os ombros
trug ich dich; 

eu o carreguei;

die sind breit:

eles são largos:
sie trugen dich dort zum Strand.

eles o levaram lá para a praia.
Nun bist du daheim, daheim zu Land:

Agora estás em casa, em casa e em seu país:
35 im echten Land,

no autêntico país,
im Heimatland;

na pátria;
auf eigner Weid’ und Wonne,

nas próprias pradarias e na alegria
im Schein der alten Sonne,

do brilho do velho sol,
darin von Tod und Wunden10

da qual da morte e feridas
du selig sollst gesunden.35

deves feliz curar-se.

TRISTAN

TRISTÃO………………………….1a parte do Delírio de Tristão
(nach einem kleinen Schweigen)

(após um breve silêncio)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Kurwenal birgt, von Grausen gepackt, sein Haupt. Tristan richtet sich
allmählich immer mehr auf)

(Kurwenal, cheio de assombro, cobre a cabeça. Pouco a pouco, Tristão levanta-se)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10 Dünkt dich das?

Você acredita nisso?
Ich weiss es anders,

Vejo de outro modo,
doch kann ich’s dir nicht sagen.

mas não lho posso dizer.
Wo ich erwacht, –

Onde acordei, –
weilt’ ich nicht;

não me detive;
doch, wo ich weilte,

mas, onde fiquei,
das kann ich dir nicht sagen.

não posso lhe contar.
Die Sonne sah ich nicht,

Não vi o sol,
noch sah ich Land und Leute:

nem vi a terra, nem as pessoas:
doch, was ich sah,

mas, o que vi,
das kann ich dir nicht sagen. 32

não posso lhe dizer.
Ich war, wo ich von je gewesen,

Estava onde sempre estive
wohin auf je ich geh’:

e onde irei para sempre:
25 im weiten Reich

no grande reino
der Weltennacht.

da noite universal.
Nur ein Wissen

Só um saber
dort uns eigen:17

lá é nosso:
göttlich ew’ges

divinamente eterno
10 Urvergessen!

o esquecer original!
Wie schwand mir seine Ahnung?1b

Como perdi sua percepção?
Sehnsücht’ge Mahnung,

Advertência saudosa,
nenn’ ich dich,

Eu a chamo,
die neu dem Licht

a que novamente à luz
des Tags mich zugetrieben?

do dia me retirou?
19 Was einzig mir geblieben,

O que unicamente me restou,
ein heiss-inbrünstig Lieben,

um amar ardente,
9 aus Todeswonne-Grauen

de pavor à maravilha da morte
jagt’s mich, das Licht zu schauen,

me compeliu, a olhar para a luz,
17 das trügend hell und golden

que enganosamente clara e dourada
noch dir, Isolden, scheint!17

ainda lhe parece, Isolda!

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

Isolde noch

Isolda ainda está
im Reich der Sonne!

no reino do sol!
17 Im Tagesschimmer

No brilho do dia
noch Isolde!

ainda está Isolda!
Welches Sehnen! Welches Bangen!
Que desejo! Que inquietude!
Sie zu sehen, welch Verlangen!

Por vê-la, que desejo!
1710 Krachend hört’ ich

Ruidosamente ouvi
hinter mir

atrás de mim
schon des Todes

já da morte
Tor sich schliessen:

a porta fechar-se:
weit nun steht es

agora está ela
wieder offen,

novamente aberta,
17 der Sonne Strahlen

os raios de sol
sprengt’ es auf;

a escancara;
mit hell erschlossnen Augen

com olhos muito abertos
musst’ ich der Nacht enttauchen,

tive que escapar da noite
26 sie zu suchen, sie zu sehen;

para procurá-la, para vê-la;
sie zu finden,

para achá-la,
in der einzig

para nela
zu vergehen, zu entschwinden

esvanecer, desaparecer
Tristan ist vergönnt.1b

seja concedido a Tristão.
Weh, nun wächst,

Oh, como cresce em mim
bleich und bang,

pálido e temeroso,
mir des Tages

do dia,
wilder Drang;

selvagem impulso;
grell und täuschend

luz ardente e enganosa
sein Gestirn

seu semblante
weckt zu Trug

desperta para o engano
und Wahn mir das Hirn!

e loucura o meu cérebro!
17 Verfluchter Tag mit deinem Schein!

Maldito dia com teu brilho!
Wachst du ewig

Vigias eternamente
meiner Pein?

a minha dor?
Brennt sie ewig,

Brilha eternamente,
diese Leuchte, die selbst nachts

esta luz, que mesmo à noite
von ihr mich scheuchte?19

me afastou dela?
Ach, Isolde,

Ah, Isolda,
süsse Holde!

doce querida!
Wann endlich,

Quando finalmente,
wann, ach wann

quando, ah quando
löschest du die Zünde,9

apagarias a chama,
dass sie mein Glück mir künde?

que anuncia minha felicidade?
Das Licht wann löscht es aus?29

A luz – quando apagará?

 

(Er sinkt erschöpft leise zurück)

(recosta-se, exausto e silencioso)

 

 

 

Wann wird es Nacht im Haus?

Quando será noite em casa?

KURWENAL

KURWENAL
(nach grosser Erschütterung aus der Niedergeschlagenheit sich aufraffend)

(recompondo-se, após grande comoção, do desânimo)

18 Der einst ich trotzt’,

A quem então desafiei,
aus Treu’ zu dir,

por fidelidade a ti,
mit dir nach ihr

contigo, por ela
nun muss ich mich sehnen.

tenho que estar saudoso.
Glaub’ meinem Wort:

Creia em minhas palavras:
du sollst sie sehen

deves vê-la
hier und heut;

aqui e hoje;
den Trost kann ich dir geben –

esse consolo posso te dar –
ist sie nur selbst noch am Leben.

caso ela ainda esteja viva.

TRISTAN

TRISTÃO……………….2ª parte do Delírio de Tristão
(sehr matt)

(muito abatido)

Noch losch das Licht nicht aus,

A tocha ainda não se apagou,
noch ward’s nicht Nacht im Haus:

ainda não caiu a noite na casa:
17 Isolde lebt und wacht;

Isolda está viva e atenta;
sie rief mich aus der Nacht.9

sua chamada me arrancou de dentro da noite.

KURWENAL
KURWENAL

Lebt sie denn,

Então, se ela vive,
so lass dir Hoffnung lachen!

deixe que a esperança lhe sorria!
Muss Kurwenal dumm dir gelten,

Mesmo que Kurwenal lhe pareça estúpido,
heut’ sollst du ihn nicht schelten.

hoje não o deve repreender.
Wie tot lagst du

Como morto estavas tu
seit dem Tag, da Melot, der Verruchte,

desde o dia em que Melot, o maldito,
dir eine Wunde schlug.14

o feriu.
Die böse Wunde, wie sie heilen?

Como curar uma ferida tão grave?
Mir tör’gem Manne

A mim, homem ignorante,
dünkt’ es da, 

Ocorreu que
22 wer einst dir Morolds

quem naquela vez
Wunde schloss,14

a ferida causada por Morold curou
der heilte leicht die Plagen,

facilmente curaria as feridas ,
von Melots Wehr geschlagen.9 19

causadas com a arma de Melot.
Die beste Ärztin

A melhor curandeira
bald ich fand;

logo encontrei;
nach Kornwall hab ich ausgesandt:

para a  Cornualha enviei:
ein treuer Mann wohl übers Meer

um homem fiel pelos mares para
bringt dir Isolde her.

traz-lhe Isolda para cá.

TRISTAN

TRISTÃO
(ausser sich)

(fora de si)

 

 

 

 

 

(Er zieht Kurwenal an sich und umarmt ihn)

(puxa Kurwenal para si, abraçando-o)

17 Isolde kommt!

Isolda vem!
9 Isolde naht!17

Isolda se aproxima!
O Treue! Hehre,

Oh, fidelidade! Honrada,
holde Treue!
fidelidade sublime!

172019 Mein Kurwenal,

Meu querido Kurwenal,
du trauter Freund!

fiel amigo!
Du Treuer ohne Wanken,

Tu fiel sem vacilar,
wie soll dir Tristan danken?

como pode Tristão te agradecer?
12 Mein Schild, mein Schirm

Meu escudo, meu abrigo
in Kampf und Streit,

na luta e disputa,
zu Lust und Leid

no prazer e sofrimento
mir stets bereit:17 

a mim sempre pronto:
wen ich gehasst, den hasstest du;

a quem odiei, odiaste tu também;
1b wen ich geminnt, den minntest du.33

quem amei, amaste tu.
Dem guten Marke,

Ao bom Marke,
dient’ ich ihm hold,

quando o servi fiel,
17 wie warst du ihm treuer als Gold!33

como foste-lhe mais fiel que ouro!
Musst’ ich verraten

Tive que trair
den edlen Herrn,

ao nobre senhor,
wie betrogst du ihn da so gern!

como enganaste-o com prazer!
17 Dir nicht eigen,

Não sendo o teu (o sofrimento)
einzig mein,

somente meu,
33 mit leidest du, wenn ich leide:

sofres comigo, quando sofro:
nur was ich leide;

só que o que sofro;
das kannst du nicht leiden!16

não podes sofrer!
Dies furchtbare Sehnen,

Esta terrível saudade,
das mich sehrt; dies schmachtende Brennen,

que me consome; este ardor dilacerante,
das mich zehrt;

que me destrói;
wollt’ ich dir’s nennen,

quisera eu nomeá-los,
könntest du’s kennen:

poderias sabê-lo:
33 nicht hier würdest du weilen,

não ficarias aqui,
zur Warte müsstest du eilen, –

correrias para a torre, –
mit allen Sinnen

com todos sentidos
sehnend von hinnen

procurando até lá
nach dorten trachten und spähen,

para lá olhando e espiando,
wo ihre Segel sich blähen,

onde suas velas se inflam,
wo vor den Winden,

onde pelos ventos,
mich zu finden,

para me encontrar,
von der Liebe Drang befeuert,

açulada pelo ímpeto do amor,
Isolde zu mir steuert! –

para mim veleja Isolda! –

Es naht! Es naht

Aproxima-se! Aproxima-se!
mit mutiger Hast!17

com pressa corajosa!
Sie weht, sie weht – die Flagge am Mast.

Ela se agita, se agita, – a bandeira no mastro.
Das Schiff! Das Schiff!

O barco! O barco!
Dort streicht es am Riff!

Lá avança pelo recife!

Siehst du es nicht?1b
Não o vês?

(heftig)

(violento)

 

 

Kurwenal, siehst du es nicht?34

Kurwenal, não o vês?

(Als Kurwenal, um Tristan nicht zu verlassen, zögert, und dieser in schweigender Spannung auf ihn blickt, ertönt, wie zu Anfang, näher, dann ferner, die klagende Weise des Hirten)

(Enquanto Kurwenal hesita para não deixar Tristão e este o olha com silenciosa tensão, ouve-se, como no início, mais perto e depois mais longe, a melodia melancólica do pastor.)34

KURWENAL

KURWENAL
(niedergeschlagen)

(abatido)

Noch ist kein Schiff zu sehn!

Não há nenhum barco a vista!

TRISTAN

TRISTÃO………………..3a parte do Delírio de Tristão
(hat mit abnehmender Aufregung gelauscht und beginnt nun mit wachsender Schwermut)

(ouvindo cada vez com menos entusiasmo, e agora começa com crescente melancolia)

Muss ich dich so verstehn,

Assim devo interpreter,
du alte ernste Weise,

antiga e triste melodia,
mit deiner Klage Klang?

com o seu som de lamento?
Durch Abendwehen

Pela brisa vespertina
34 drang sie bang,

ela penetrou temerosa
als einst dem Kind

como quando ao filho
des Vaters Tod verkündet: –

a morte de seu pai anunciou: –
durch Morgengrauen

na luz acinzentada da alvorada,
bang und bänger,

com mais temor ainda,
als der Sohn

quando o filho
der Mutter Los vernahm.

o destino de sua mãe percebeu.
Da er mich zeugt’ und starb,

Ele me gerou e morreu.
sie sterbend mich gebar, –

Ela, morrendo, me deu à luz, –
die alte Weise

a velha melodia
sehnsuchtbang

com temor saudoso
zu ihnen wohl

neles certamente
auch klagend drang,

lamentando, também penetrou,
die einst mich frug,

que então me perguntou
und jetzt mich frägt:

e agora me pergunta:
zu welchem Los erkoren,

a que sorte destinado,
ich damals wohl geboren?

então nasci?
Zu welchem Los?

A que sorte?
34 Die alte Weise

A velha melodia
sagt mir’s wieder:

me diz outra vez:
mich sehnen und sterben!34

desejar – e morrer!
34 Nein! Ach nein!

Não! Ah, não!

So heisst sie nicht!

Não é este seu nome!
Sehnen! Sehnen!

Desejar! Desejar!
Im Sterben mich zu sehnen,1b

Morrendo a desejar,
34 vor Sehnsucht nicht zu sterben!34

não morrer de desejo!
Die nie erstirbt,34

Ela que nunca morre,
sehnend nun ruft

só chama agora saudosa
um Sterbens Ruh’

pela paz da morte
sie der fernen Ärztin zu. –14

pela distante curandeira. –
Sterbend lag ich

Moribundo estava eu
stumm im Kahn,

calado no barco,
der Wunde Gift

o veneno da ferida
dem Herzen nah:34

próximo ao coração:
Sehnsucht klagend

queixosa e saudosa
klang die Weise;14

soava a melodia;
den Segel blähte der Wind

o vento inflava a vela
hin zu Irlands Kind.34

em direção da garota irlandesa.
14 Die Wunde, die

A ferida, a qual
sie heilend schloss,

ela fechou, curando-a
riss mit dem Schwert

abriu com a espada
sie wieder los;

novamente;
das Schwert dann aber –

a espada então –
liess sie sinken; 4

ela deixou cair;
den Gifttrank gab sie

deu-me a poção da cura
mir zu trinken:

para beber:
wie ich da hoffte

como esperava então
ganz zu genesen,

curar-me totalmente,
da ward der sehrendste

estava então
34 Zauber erlesen:

eleita a magia:
dass nie ich sollte sterben,

que nunca eu devesse morrer,
mich ew’ger Qual vererben!

me doar a tortura eterna!
Der Trank! Der Trank! Der furchtbare Trank!16

A poção! A poção! A terrível poção!
Wie vom Herzen zum Hirn

Como do coração à cabeça
er wütend mir drang!

ela furiosamente penetrou em mim!
Kein Heil nun kann,

Não pode nenhuma cura
kein süsser Tod

nenhuma doce morte
je mich befrein

me libertar em tempo algum
von der Sehnsucht Not;

da angústia do desejo;
nirgends, ach nirgends

em lugar nenhum, ah, em lugar nenhum
find ich Ruh’:34

encontro a paz:
mich wirft die Nacht dem Tage zu,

a noite me arremessa ao dia,
um ewig an meinen Leiden

para eternamente no meu sofrer
der Sonne Auge zu weiden.94

o sol alimentar.
O dieser Sonne sengender Strahl,

Oh o raio ardente deste sol,
wie brennt mir das Hirn

como queima-me a testa
seine glühende Qual!

sua tortura abrasadora!
Für diese Hitze34

Para este calor
heisses Verschmachten,

ardente sofrimento,
ach, keines Schattens

ah, sem nenhuma sombra
kühlend Umnachten!

refrescante enlouquecer!
Für dieser Schmerzen

Para essa dor
schreckliche Pein,

terrível sofrimento,
welcher Balsam sollte

qual bálsamo poderia
mir Lindrung verleihn?

trazer-me alívio?
Den furchtbaren Trank,4

a terrível poção,
der der Qual mich vertraut,

a qual me trouxe a dor,
ich selbst ich selbst,

eu mesmo, – eu mesmo,
ich hab’ ihn gebraut!36

eu a fermentei!
Aus Vaters Not

Com a dor do pai
und Mutter-Weh,

e da mãe,
aus Liebestränen

com lágrimas de amor
eh’ und je, –

para sempre, –
aus Lachen und Weinen,

com risos e choros,
Wonnen und Wunden

encantos e feridas
hab ich des Trankes4 36 17

consegui da poção
Gifte gefunden!

os venenos encontrar!
Den ich gebraut,

A (poção) que eu fermentei,
der mir geflossen,

que em mim fluiu,
den Wonne schlürfend

que delícias sorvendo
je ich genossen, –

eu então saboreei,
verflucht sei, furchtbarer Trank!34

maldita seja, poção terrível!
Verflucht, wer dich gebraut!

Maldito quem te criou!

(Er sinkt ohnmächtig zurück)

(Ele cai, inconsciente)

KURWENAL

KURWENAL
(der vergebens Tristan zu mässigen suchte, schreit entsetzt auf)

(que tentou, em vão, acalmar Tristão, grita horrorizado)

Mein Herre! Tristan!

Meu senhor! Tristão!
Schrecklicher Zauber!

Magia horrível!
36 O Minnetrug!

Oh! Ilusão do amor!
O Liebeszwang!

Oh! Tirania da paixão!
Der Welt holdester Wahn,

A ilusão mais doce do mundo,
wie ist’s um dich getan!

veja no que o transformou!
Hier liegt er nun,

Aqui está ele agora,
der wonnige Mann,

este homem esplêndido,
der wie keiner geliebt und geminnt.34

que como ninguém amou e adorou.
Nun seht, was von ihm1b

Agora vejam o que dele (Tristão)
sie Dankes gewann, 

Ela (Minne) ganhou como gratidão,
32 was je Minne sich gewinnt!

o que Minne (o amor) conquistou para ele!

(mit schluchzender Stimme)

(com voz soluçante)

 

 

 

 

 

 

 

 

(Er lauscht seinem Atem)

(escuta sua respiração)

Bist du nun tot?

Estás morto?
Lebst du noch?

Ainda vives?
Hat dich der Fluch entführt? 1b

A maldição te raptou? 

 

O Wonne! Nein!

Que alegria! Não!
Er regt sich, er lebt! –

Move-se, está vivo! –
Wie sanft er die Lippen rührt!

Move suavemente os lábios!1b

TRISTAN

TRISTÃO                           4ª parte do Delírio de Tristão
(langsam wieder zu sich kommend)

(recuperando lentamente a consciência)

Das Schiff? Siehst du’s noch nicht?

E o barco? Ainda não o vês?

KURWENAL
KURWENAL

Das Schiff? Gewiss,

O barco? Certamente,
es naht noch heut’;

ainda hoje chegará;
es kann nicht lang mehr säumen.

já não pode demorar muito.

TRISTAN
TRISTÃO

29 Und drauf Isolde,

E nele vem Isolda,
wie sie winkt,

que acena para mim, –
wie sie hold

que feliz
mir Sühne trinkt:9

bebe em reconciliação:
Siehst du sie? Siehst du sie noch nicht?26

A vês? Não a vês ainda?
Wie sie selig,

Como ela feliz,
hehr und milde

nobre e terna
wandelt durch

vagueia pelas
des Meers Gefilde?

ondas do mar?
Auf wonniger Blumen

Sobre, lindas flores,
lichten Wogen

ondas iluminadas
kommt sie sanft

vem suave
ans Land gezogen.26

para a terra atraída.
Sie lächelt mir Trost

Ela sorri com consolo
und süsse Ruh’,

e doce paz,
sie führt mir letzte Labung zu.

ela me oferece o último deleite.
Ach, Isolde, Isolde!

Ah, Isolda! Isolda!

Wie schön bist du!18

Que bela és!
Und Kurwenal, wie,

E Kurwenal, como
du sähst sie nicht?

não conseguiria vê-la?
Hinauf zur Warte,

Para a torre,
du blöder Wicht!

seu vigilante ineficiente!
Was so hell und licht ich sehe,

O que vejo tão clara e abertamente,
dass das dir nicht entgehe!14

que não te escape!
Hörst du mich nicht?

Não me ouves?
Zur Warte schnell!

Para a torre rápido!
Eilig zur Warte!

Apressa-te para a torre!
Bist du zur Stell’?

Já estás lá?
18 Das Schiff? Das Schiff?

O barco? O barco?
Isoldens Schiff?

O barco de Isolda?
Du musst es sehen! Musst es sehen!

Tens que o ver! Tens que o ver!
Das Schiff? Sähst du’s noch nicht?

O barco? Ainda não consegues vê-lo?

(Während Kurwenal noch zögernd mit Tristan ringt, lässt der Hirt von aussen die Schalmei ertönen. Kurwenal springt freudig auf.)

(Enquanto Kurwenal, ainda hesitante, refreia Tristão, lá fora o pastor toca o seu instrumento. Kurwenal levanta-se de um salto, alegre.)

KURWENAL
KURWENAL
 

(Er stürzt auf die Warte und späht aus)

(corre para a torre e espreita)37

O Wonne! Freude!
Oh, delícia! Alegria! 


Ha! Das Schiff!

Ah! O barco!
Von Norden seh’ ich’s nahen.

Vejo aproximar-se, vindo do norte.

18

TRISTAN

TRISTÃO
(in wachsender Begeisterung)
(com crescente entusiasmo)

Wusst’ ich’s nicht?

Eu não sabia?
Sagt’ ich’s nicht?

Eu não lhe disse?
dass sie noch lebt,

Que ela ainda está viva,
noch Leben mir webt?

que ainda tece vida para mim?
Die mir Isolde

A mim Isolda
einzig enthält,

a única que importa,
wie wär’ Isolde

como estaria Isolda
mir aus der Welt?37

fora do mundo?

KURWENAL

KURWENAL
(von der Warte zurückrufend, jauchzend)

(chamando da torre, em júbilo)

Heiha! Heiha!

Heiha! Heiha!
Wie es mutig steuert!

Como navega valente!
Wie stark der Segel sich bläht!

Como se enchem as velas!
Wie es jagt, wie es fliegt!

Como corre, como voa!

TRISTAN
TRISTÃO

Die Flagge? Die Flagge?

A bandeira? A bandeira?

KURWENAL
KURWENAL

Der Freude Flagge

A bandeira da alegria
am Wimpel lustig und hell!

no mastro alegre e brilhante!

TRISTAN

TRISTÃO
(auf dem Lager hoch sich aufrichtend)

(erguendo-se do leito)

Hahei! Der Freude!

Hahei! Que alegria!
Hell am Tage

Na luz do dia
zu mir Isolde!

Isolda vem a mim!
Isolde zu mir!

A mim vem Isolda!
Siehst du sie selbst?

Tu mesmo a vês?

KURWENAL
KURWENAL

Jetzt schwand das Schiff

Agora o barco desapareceu
hinter dem Fels.

atrás da rocha.

TRISTAN
TRISTÃO

Hinter dem Riff?

Atrás do recife?
Bringt es Gefahr?19

Há perigo?
Dort wütet die Brandung,

É onde arrebentam as ondas,
scheitern die Schiffe!

onde os barcos naufragam!
Das Steuer, wer führt’s?

O leme, quem o guia?

KURWENAL
KURWENAL

Der sicherste Seemann.

O marinheiro mais seguro.

TRISTAN
TRISTÃO

Verriet’ er mich?

Ele me trairia?
Wär’ er Melots Genoss?

Seria um aliado de Melot?

KURWENAL
KURWENAL

Trau’ ihm wie mir!

Confie nele como confia em mim!

TRISTAN
TRISTÃO

Verräter auch du!

Tu também és um traidor!
Unsel’ger!

Maldito!
Siehst du sie wieder?

A vês novamente?

KURWENAL
KURWENAL

Noch nicht.

Ainda não.

TRISTAN
TRISTÃO

Verloren!37

Perdidos!

KURWENAL

KURWENAL
(jauchzend)

(jubilante)

Heiha! Hei ha ha ha!

Heiha! Hei ha ha ha!
Vorbei! Vorbei!

Ultrapassou! Ultrapassou!
Glücklich vorbei!

Felizes passaram!

TRISTAN

TRISTÃO
(jauchzend)

(jubilante)

Hei ha ha ha! Kurwenal,

Kurwenal, hei ha ha ha,
treuester Freund!

meu amigo mais fiel!
All mein Hab’ und Gut

Todas minhas posses
vererb ich noch heute.

lego-te ainda hoje.

KURWENAL
KURWENAL

Sie nahen im Flug.

Eles vêm a toda velocidade.

TRISTAN
TRISTÃO

Siehst du sie endlich?

E finalmente a vês?
Siehst du Isolde?

Vês Isolda?

18

KURWENAL
KURWENAL

Sie ist’s! Sie winkt!

É ela! Ela acena!

TRISTAN
TRISTÃO

O seligstes Weib!

Oh, mulher bendita!

KURWENAL
KURWENAL

Im Hafen der Kiel!

O barco atracou.
Isolde, ha!

Isolda, ha!
Mit einem Sprung

De um salto
springt sie vom Bord ans Land.

sai do barco para a terra.

TRISTAN
TRISTÃO

Herab von der Warte, müssiger Gaffer!

Desce da torre, preguiçoso.

Hinab! Hinab an den Strand!
Para baixo! Para a praia!
Hilf ihr! Hilf meiner Frau!

Ajuda-a! Ajuda minha mulher!

KURWENAL
KURWENAL 

 

 

 

 

(Kurwenal eilt fort)

(Kurwenal desaparece correndo)

Sie trag’ ich herauf:

Eu a trarei até aqui,
trau’ meinen Armen!

confia nos meus braços!
Doch du, Tristan,

Porém tu, Tristão,
bleib mir treulich am Bett.

continue fiel a mim junto ao leito.