BEIDE
AMBOS

17 O ew’ge Nacht,

Oh, noite eterna,
10 süsse Nacht!

doce noite!
Hehr erhabne

Gloriosa, sublime
Liebesnacht!

noite de amor!
Wen du umfangen,

Quem você amparou,
wem du gelacht,

a quem você sorriu,
wie wär’ ohne Bangen

como poderiam sem medo
aus dir er je erwacht?

despertar de ti?
Nun banne das Bangen,

Afugente os medos,
holder Tod,

doce morte,
sehnend verlangter

desejada intensamente
10 Liebestod!

morte de amor!
In deinen Armen,

Nos teus braços,
dir geweiht,

entregues a você,
urheilig Erwarmen,

envoltos em seu sagrado calor,
von Erwachens Not befreit!

livres da miséria do despertar!

TRISTAN
TRISTÃO

27 Wie sie fassen,

Como retê-la,
wie sie lassen,

como deixá-la,
diese Wonne…

esta felicidade…

BEIDE
AMBOS

…fern der Sonne,

…distantes do sol,
fern der Tage

distantes dos dias
Trennungsklage!…

lamento da separação!…

ISOLDE

ISOLDA

…ohne Wähnen…

…sem enganos…

TRISTAN
TRISTÃO

28…sanftes Sehnen…

…suave ânsia…

ISOLDE

ISOLDA

27…ohne Bangen –

… sem temores –

TRISTAN
TRISTÃO

28…süss Verlangen.

…doce desejo.

27 Ohne Wehen…

Sem sofrimentos…

BEIDE
AMBOS

28…hehr Vergehen…

…sublime morrer…

ISOLDE

ISOLDA

27, 28…ohne Schmachten…

…sem lamentos…

BEIDE
AMBOS

…hold Umnachten.

…doce enlouquecer.

TRISTAN
TRISTÃO

9…ohne Meiden…

…sem abandonos…

BEIDE
AMBOS

…ohne Scheiden,

…sem separar-nos,
27 traut allein,

os dois sozinhos,
ewig heim,

na morada eterna,
in ungemessnen Räumen

no espaço infinito
übersel’ges Träumen.

em sonhos ilimitados.

TRISTAN
TRISTÃO

28 Tristan du,

Tristão tu,
ich Isolde,

eu Isolda,
nicht mehr Tristan!

não mais Tristão!

ISOLDE
ISOLDA

28 Du Isolde,

Tu Isolda,
Tristan ich,

Tristão eu,
nicht mehr Isolde!

já não Isolda!

BEIDE
AMBOS

9 Ohne Nennen,

Sem nos nomear,
ohne Trennen,

sem nos separar,
neu Erkennen,

novo reconhecer,
neu Entbrennen.

novo inflamar-se.
29 Ewig endlos,

Eternamente infinitos,
ein-bewusst:

unidos em um só ser:
heiss erglühter Brust

peito ardente,
höchste Liebeslust!

o supremo prazer do amor!

(Sie bleiben in verzückter Stellung)

(permanecem em postura extasiada)

SZENE III

CENA III

Die Vorigen. Kurwenal, Brangäne, Marke, Melot und Hofleute.

As personagens anteriores, Kurwenal, Brangäne, Marke, Melot e cortesãos.

(Brangäne stösst einen grellen Schrei aus. Kurwenal stürzt mit entblösstem Schwerte herein.)

(Brangäne solta um grito agudo. Kurwenal entra precipitadamente, com a espada desembainhada.)

21, 17, 18, 27, 28, 17

KURWENAL
KURWENAL

Rette dich, Tristan!

Salve-se Tristão!

(Er blickt mit Entsetzen hinter sich in die Szene zurück. Marke, Melot und Hofleute [in Jägertracht] kommen aus dem Baumgange lebhaft nach dem Vordergrunde und halten entsetzt der Gruppe der Liebenden gegenüber an. Brangäne kommt zugleich von der Zinne herab und stürzt auf Isolde zu. Diese, von unwillkürlicher Scham ergriffen, lehnt sich, mit abgewandtem Gesicht, auf die Blumenbank. Tristan, in ebenfalls unwillkürlicher Bewegung, streckt mit dem einen Arme den Mantel breit aus, so dass er Isolde vor den Blicken der Ankommenden verdeckt. In dieser Stellung verbleibt er längere Zeit, unbeweglich den starren Blick auf die Männer gerichtet, die in verschiedener Bewegung die Augen auf ihn heften. – Morgendämmerung.)  

(Com pavor, olha para trás. Marke, Melot e cortesãos, em traje de caça, chegam e param, horrorizados, diante dos amantes. Ao mesmo tempo, Brangäne atira-se para Isolda. Esta, tomada de vergonha, encosta-se, com o rosto desviado, no banco florido. Tristão, também involuntariamente comovido, estende o manto com um de seus braços, cobrindo Isolda dos olhares dos que chegam. Nesta postura, permanece durante algum tempo, imóvel, o olhar hirto dirigido para os homens que, com atitudes variadas, fixam os olhos nele. Alvorada.)

TRISTAN

TRISTÃO
(nach längerem Schweigen)

(após silêncio prolongado)

Der öde Tag

O dia desolado
zum letztenmal!

pela última vez!

MELOT

MELOT
(zu Marke)

(a Marke)

17 Das sollst du, Herr, mir sagen,

Diga-me, meu senhor,
ob ich ihn recht verklagt?

se o acusei corretamente?
Das dir zum Pfand ich gab,

Que lhe dei em garantia,
ob ich mein Haupt gewahrt?

se conservarei minha cabeça?
Ich zeigt’ ihn dir

Eu lhe o mostrei
in offner Tat:

em pleno delito:
Namen und Ehr’

o seu nome e sua honra
hab ich getreu

fielmente
vor Schande dir bewahrt.

o poupei da vergonha.

MARKE

MARKE
30 (nach tiefer Erschütterung, mit bebender Stimme)

(profundamente abalado, com voz trêmula)

Tatest du’s wirklich?

Você o fez realmente?
Wähnst du das?

É nisso que crê?
Sieh ihn dort,

Aí está,
den treuesten aller Treuen;

o mais fiel de todos os homens.
blick auf ihn,

Olhem para ele.
den freundlichsten der Freunde:

O amigo mais leal:
seiner Treue

de sua fidelidade
freister Tat

ato licencioso
traf mein Herz

partiu meu coração
mit feindlichstem Verrat!

com a mais abominável traição!
Trog mich Tristan,

Se Tristão me traiu,
sollt’ ich hoffen,

poderia eu esperar,
was sein Trügen

que sua atitude pérfida
mir getroffen,

que me feriu,
sei durch Melots Rat

possa pelo conselho de Melot
redlich mir bewahrt?

ser-me reparado?

TRISTAN

TRISTÃO
(krampfhaft heftig)

(convulsivamente violento)

17 Tagsgespenster!

Fantasmas do dia,
Morgenträume!

sonhos da manhã,
täuschend und wüst!

falsos e vãos,
Entschwebt! Entweicht!

desapareçam! Sumam!

MARKE

MARKE
(mit tiefer Ergriffenheit)

(profundamente comovido)

Mir dies?

É por mim que você diz?
Dies, Tristan, mir? –

A mim você fez isso, Tristão? –
Wohin nun Treue,

Para onde foi a lealdade,
da Tristan mich betrog?

se Tristão me traiu?
Wohin nun Ehr’

Onde está a honra?
und echte Art,

e a verdade?,
da aller Ehren Hort,

todas as valorosas honras,
da Tristan sie verlor?

Tristão as perdeu?
Die Tristan sich

Das quais Tristão
zum Schild erkor,

como escudo se nomeou,
wohin ist Tugend

para onde a virtude
nun entflohn,

então se foi?
da meinen Freund sie flieht,

Pois ela abandona meu amigo,
da Tristan mich verriet?31  

pois que Tristão me traiu?

(Tristan senkt langsam den Blick zu Boden; in seinen Mienen ist, während Marke fortfährt, zunehmende Trauer zu lesen.)

(Tristão baixa lentamente o olhar para o chão; nas suas expressões, enquanto Marke prossegue, percebesse cada vez mais tristeza.)

MONÓLOGO DO REI MARKE

31 Wozu die Dienste

Para que os préstimos
ohne Zahl,

sem conta,
der Ehren Ruhm,

da honra e fama,
der Grösse Macht,

o grande poder,
die Marken du gewannst;

que tu conquistaste para Marke;
musst’ Ehr’ und Ruhm,

teve que honra e fama,
Gröss’ und Macht,

grandeza e poder,
musste die Dienste

teve que os préstimos
ohne Zahl

sem conta
dir Markes Schmach bezahlen?

pagar-te com a vergonha de Marke?
Dünkte zu wenig

Valeu-te (Tristão) tão pouco
dich sein Dank,

a sua gratidão,
dass, was du ihm erworben,

isto que você conquistou para ele (Marke),
Ruhm und Reich,

fama e reino,
er zu Erb’ und Eigen dir gab?

ele lhe deu como herança?
Da kinderlos einst

Sendo sem filhos
schwand sein Weib,

sua esposa partido,
so liebt’ er dich,

tanto ele te amou,
dass nie aufs neu

que jamais quis novamente
sich Marke wollt vermählen.

Marke se casar.
Da alles Volk

Todo povo
zu Hof und Land

na corte e no campo
mit Bitt’ und Dräuen

com pedidos e ameaças
in ihn drang,

lhe pediam para
die Königin dem Lande,

a rainha ao país
die Gattin sich zu kiesen;

a esposa escolher;
da selber du

como você mesmo
den Ohm beschworst,

ao tio implorou,
des Hofes Wunsch,

a vontade da corte,
des Landes Willen

a vontade do país
gütlich zu erfüllen;

bondosamente cumprir:
in Wehr wider Hof und Land,

defendendo-se contra corte e país,
in Wehr selbst gegen dich,

mesmo contra você,
mit List und Güte

com bondade e astúcia
weigerte er sich,

(Marke) negava-se
bis, Tristan, du ihm drohtest,

até que Tristão, o ameaçasse
für immer zu meiden

de afastar-se para sempre,
Hof und Land,

da corte e do país,
würdest du selber

não fostes tu
nicht entsandt,

enviado,
dem König die Braut zu frein,

para escolher a noiva para o rei,
da liess er’s denn so sein. –

o que ele (Marke) então permitiu. –
Dies wunderhehre Weib,

Esta maravilhosa mulher,
das mir dein Mut gewann,

que a tua coragem para mim conquistou,
wer durft’ es sehen,

quem a poderia ve-la,
wer es kennen,

quem a conhece-la,
wer mit Stolze

quem com orgulho
sein es nennen,

chamá-la de sua,
ohne selig sich zu preisen?

Poderia sem alegria jubilar-ser?
Der mein Wille

Aquele que à minha vontade
nie zu nahen wagte,

jamais ousou cumprir,
der mein Wunsch

aquele que o meu desejo
ehrfurchtscheu entsagte,

desrespeitosamente renunciou,
die so herrlich

a tão maravilhosa
hold erhaben

sublime
mir die Seele

à minha alma
musste laben,

devia deliciar,
trotz Feind und Gefahr,

apesar do inimigo e perigo,
die fürstliche Braut

a noiva nobre
brachtest du mir dar.31

a mim trouxeste.
Nun, da durch solchen

Pois que tu com tal
Besitz mein Herz

posse meu coração
du fühlsamer schufst

tornaste mais sensível
als sonst dem Schmerz,

do que nunca à dor,
dort wo am weichsten,

aí onde no mais atingível
zart und offen,

fácil e aberto,
würd’ ich getroffen,

teria que ser atingido,
nie zu hoffen,

sem nunca ter esperança
dass je ich könnte gesunden:

de poder algum dia curar-me:
warum so sehrend,

por que tão dolorosamente,
Unseliger,

infeliz,
dort nun mich verwunden?

Ali me feriste?
Dort mit der Waffe

Ali com a arma
quälendem Gift,

de veneno tão atormentador,
das Sinn und Hirn

que razão e sentidos
mir sengend versehrt,

me machucam tão ardentemente
das mir dem Freund

que de meu amigo
die Treue verwehrt,

nega a fidelidade,
mein offnes Herz

meu coração aberto
erfüllt mit Verdacht,

cheio de suspeita,
dass ich nun Heimlich

que eu secretamente
in dunkler Nacht

na escuridão da noite
den Freund lauschend beschleiche,

surpreendo, na espreita, o amigo
meiner Ehren Ende erreiche? 7

atinjo o fim da minha honra?
Die kein Himmel erlöst,

Do qual nenhum céu liberta,
warum mir diese Hölle?

por que a mim este inferno?
Die kein Elend sühnt,

Que não expia a miséria,
warum mir diese Schmach?31

por que a mim esta vergonha?
Den unerforschlich tief

A insondável e profunda
geheimnisvollen Grund,

secreta razão,
wer macht der Welt ihn kund?

quem revelará ao mundo? 1

TRISTAN

TRISTÃO
(mitleidig das Auge zu Marke erhebend)

(com compaixão, levantando os olhos para Marke)

 

 

 

 

 

 

 

(Er wendet sich zu Isolde, die sehnsüchtig zu ihm aufblickt)

(vira-se para Isolda, que levanta saudosamente o olhar para ele)

O König, das

Oh rei, isso
kann ich dir nicht sagen;

não posso lhe dizer
und was du frägst,

e o que pergunta
das kannst du nie erfahren.

nunca o compreenderá.

 

 

 

26 Wohin nun Tristan scheidet,

Para onde quer que Tristão vá agora,
willst du, Isold’, ihm folgen?

você o seguirá, Isolda?
Dem Land, das Tristan meint,

No país de que imagino,
der Sonne Licht nicht scheint:

a luz do sol nunca brilha:
25 es ist das dunkel

é a escura
nächt’ge Land,

terra noturna,
daraus die Mutter

da qual a mãe
mich entsandt,

me enviou
als, den im Tode

quando na morte
sie empfangen,

me recebeu,
im Tod sie liess

na morte ela deixou-me
an das Licht gelangen.

chegar à luz.
Was, da sie mich gebar,

O que, onde me concebeu,
ihr Liebesberge war,

era seu refúgio de amor,
das Wunderreich der Nacht,

o maravilhoso reino da Noite,
aus der ich einst erwacht;

do qual então acordei;
26 das bietet dir Tristan,

isto te oferece Tristão,
dahin geht er voran:

para lá ele te precede:
ob sie ihm folge10

se ela o seguirá
treu und hold, –

fiel e feliz, –
das sag’ ihm nun Isold’!

diga-lhe agora, Isolda!

ISOLDE
ISOLDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Tristan neigt sich langsam über sie, und küsst sie sanft auf die Stirn. – Melot fährt wütend auf.)

(Tristão inclina-se lentamente e beija-a suavemente na testa. Melot levanta-se furioso.)

17 Als für ein fremdes Land

Quando a uma terra estranha
der Freund sie einstens warb,

o amigo então a  levou,
dem Unholden

ao perverso
treu und hold

fiel e submissa,
musst’ Isolde folgen.

Isolda teve que seguir.
25 Nun führst du in dein Eigen,

Agora me conduza a teu reino,
dein Erbe mir zu zeigen;

para me mostrar tua herança.
wie flöh’ ich wohl das Land,

Como eu poderia fugir deste país,
das alle Welt umspannt?

que se estende pelo mundo todo?
26 Wo Tristans Haus und Heim,

Onde for casa e lar de Tristão,
da kehr Isolde ein:

Isolda ali se alojará:
auf dem sie folge

ali o seguirá
treu und hold,

fiel e submissa.
den Weg nun zeig Isold’!29, 28

Mostre o caminho a Isolda!

MELOT

MELOT
(das Schwert ziehend)

(desembainhando a espada)

 

 

 

 

(Tristan zieht sein Schwert, und wendet sich schnell um)(Tristão desembainha sua espada e vira-se rapidamente)

19 Verräter! Ha!

Traidor! Ah!
Zur Rache, König!

Vingança, rei!
Duldest du diese Schmach?

O senhor vai tolerar esse ultraje?

TRISTAN
TRISTÃO

 

 

(Er heftet den Blick auf Melot)

(fixa o olhar em Melot)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Er dringt auf Melot ein)

(avança sobre Melot)

 

 

 

 

 

 (Als Melot ihm das Schwert entgegenstreckt, lässt Tristan das seinige fallen und sinkt verwundet in Kurwenals Arme. Isolde stürzt sich an seine Brust. Marke hält Melot zurück. – Der Vorhang fällt schnell.) 17

(Quando Melot lhe aponta a espada, Tristão deixa cair a sua e tomba, ferido, nos braços de Kurwenal. Isolda precipita-se para ele. Marke detém Melot. O pano desce rapidamente.)

Wer wagt sein Leben an das meine?

Quem ousa arriscar sua vida contra a minha?

 

 

 

 

 

 

Mein Freund war der,

Era meu amigo,
er minnte mich hoch und teuer;

dedicava a mim carinho e lealdade.
um Ehr’ und Ruhm

Com minha honra e fama
mir war er besorgt wie keiner.

preocupava-se como ninguém mais.
Zum Übermut

Com intenção
trieb er mein Herz;

ele incentivou meu coração;
die Schar führt’ er,

e liderou os homens,
die mich gedrängt,

que me incentivavam,
17 Ehr’ und Ruhm mir zu mehren,

a aumentar minha honra e glória,
10 dem König dich zu vermählen!

oferecendo-a ao rei como esposa!
1b Dein Blick, Isolde,

Teu olhar, Isolda,
blendet’ auch ihn;

a ele também encantou;
aus Eifer verriet

por ciúme traiu-me
mich der Freund

meu amigo
dem König, den ich verriet!

ao rei, a quem eu o traí!

 

 

 


Wehr dich, Melot!

Defenda-se, Melot!

 

 

 

Dritter Aufzug

Terceiro Ato

(Tristans Burg in der Bretagne. Burggarten. Zur einen Seite hohe Burggebäude, zur andren eine niedrige Mauerbrüstung, von einer Warte unterbrochen; im Hintergrunde das Burgtor. Die Lage ist auf felsiger Höhe anzunehmen; durch Öffnungen blickt man auf einen weiten Meereshorizont. Das Ganze macht den Eindruck der Herrenlosigkeit, übel gepflegt, hie und da schadhaft und bewachsen. Im Vordergrunde, an der inneren Seite, liegt Tristan, unter dem Schatten einer grossen Linde, auf einem Ruhebett schlafend, wie leblos ausgestreckt. Zu Häupten ihm sitzt Kurwenal, in Schmerz über ihn hingebeugt und sorgsam seinem Atem lauschend.)

(O jardim do castelo de Tristão, na Bretanha, no alto de um rochedo. De um lado, construções altas do castelo; do outro, um parapeito baixo, interrompido por uma torre. Em segundo plano, o portão do castelo; através das aberturas pode-se ver o mar e o horizonte ao longe. Tudo dá a sensação de abandono. Em primeiro plano, do lado interno, está deitado Tristão, à sombra de uma frondosa tília, dormindo num divã estendido. Junto à cabeceira encontra-se Kurwenal, sentado, curvado sobre ele e prescrutando atentamente sua respiração.)

 

32, 33 32 33 32 34, 34

SZENE I

CENA I

Der Hirt, Kurwenal, Tristan.

O pastor, Kurwenal, Tristão.

(Von der Aussenseite her hört man, beim Aufziehen des Vorhanges, einen Hirtenreigen, sehnsüchtig und traurig auf einer Schalmei geblasen. Endlich erscheint der Hirt selbst mit dem Oberleibe über der Mauerbrüstung und blickt teilnehmend herein.)

(Vindo do lado externo, enquanto o pano de boca se abre, ouve-se um instrumento de sopro tocado tristemente por um pastor. Finalmente o próprio pastor vai aparecendo, por cima do parapeito, e olha simpaticamente para dentro.)

HIRT

PASTOR
(leise)

(em voz baixa)

 

 

 

 

(Kurwenal wendet ein wenig das Haupt nach ihm)

(Kurwenal gira um pouco a cabeça para ele)

Kurwenal! He!

Kurwenal! Hei!
Sag, Kurwenal!

Diga, Kurwenal!
Hör doch, Freund!

Escute, amigo!

 

  

Wacht er noch nicht?

Ainda não está acordado?32

KURWENAL

KURWENAL
(schüttelt traurig mit dem Kopf)

(abana tristemente a cabeça)

Erwachte er,

Se acordasse,
wär’s doch nur

seria apenas
um für immer zu verscheiden:

para nos deixar para sempre:
33 erschien zuvor

a menos que antes
die Ärztin nicht,

a curandeira apareça,
die einz’ge, die uns hilft. –

a única, que nos ajudaria. –
32 Sahst du noch nichts?

Ainda não viste nada?
Kein Schiff noch auf der See?

Nenhum navio no mar?

HIRT
PASTOR

34 Eine andre Weise

De um outro jeito
hörtest du dann,

você ouviria,
so lustig, als ich sie nur kann.

a mais alegre que eu conheço.
Nun sag auch ehrlich,

Agora diz honestamente,
alter Freund:

velho amigo:
was hat’s mit unserm Herrn?

o que há com nosso senhor?

KURWENAL
KURWENAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Der Hirt wendet sich und späht, mit der Hand überm Aug’, nach dem Meer aus)

(o pastor vira-se e inspeciona o mar)

 

 

Lass die Frage:32

Não me pergunte:
du kannst’s doch nie erfahren.

você não compreenderia.
Eifrig späh;

Continue vigiando,
und siehst du ein Schiff,

se vir um barco,
so spiele lustig und hell!

toque algo alegre!!

HIRT
PASTOR

 

 

 

(Er setzt die Schalmei an den Mund und entfernt sich blasend)

(põe o instrumento na boca e afasta-se tocando)

Öd und leer das Meer! 34
Desolado e vazio está o mar!

TRISTAN

TRISTÃO
(bewegungslos, dumpf)

(imóvel, apático)

34 Die alte Weise;

A antiga melodia; –
was weckt sie mich?

o que desperta em mim?

KURWENAL

KURWENAL
(fährt erschrocken auf)

(levanta-se assustado)

Ha! 

Ah!

TRISTAN

TRISTÃO

(schlägt die Augen auf und wendet das Haupt ein wenig)

(abre os olhos e gira um pouco a cabeça)

Wo bin ich?

Onde estou?

KURWENAL

KURWENAL

Ha! Diese Stimme!

Ah! Essa voz!
Seine Stimme!

A sua voz!
Tristan, Herre!

Tristão, meu senhor!
Mein Held! Mein Tristan!

Meu herói! Meu Tristão!

TRISTAN

TRISTÃO

(mit Anstrengung)

(com esforço)

Wer ruft mich?

Quem me chama?

KURWENAL
KURWENAL

Endlich! Endlich!

Finalmente! Finalmente!
Leben, o Leben!

Vida, oh, vida!
Süsses Leben,

A doce vida
meinem Tristan neu gegeben!

voltou ao meu Tristão!

TRISTAN

TRISTÃO
(ein wenig auf dem Lager sich erhebend, matt)

(levantando-se um pouco no leito, abatido)

Kurwenal – du?

Kurwenal, é você?
Wo war ich?

Onde eu estava?
Wo bin ich? 35

Onde estou?

KURWENAL
KURWENAL

Wo du bist?

Onde estás?
In Frieden, sicher und frei!

Em paz, seguro e livre!
Kareol, Herr:

Em Kareol, meu senhor.
kennst du die Burg

Não reconhece o castelo
der Väter nicht?

dos teus antepassados?

TRISTAN
TRISTÃO

Meiner Väter?

Dos meus antepassados?

KURWENAL
KURWENAL

Sieh dich nur um!34

Olhe à sua volta!

TRISTAN
TRISTÃO

35 Was erklang mir?

O que ouvi?

KURWENAL
KURWENAL

Des Hirten Weise

A melodia do Pastor
hörtest du wieder;

ouviste outra vez,
am Hügel ab

ao pé da colina
hütet er deine Herde.

ele pastoreia o teu rebanho.

TRISTAN
TRISTÃO

Meine Herde?

Meu rebanho?

KURWENAL
KURWENAL

Herr, das mein’ ich!

Senhor, é o que digo!
35 Dein das Haus,

Tua casa,
Hof und Burg!

a fazenda e castelo.
Das Volk, getreu

O povo tão fiel
dem trauten Herrn,

ao querido senhor,
so gut es konnt’,

tão bem quanto pôde,
hat’s Haus und Hof gepflegt,

cuidou da casa e fazenda,
das einst mein Held

que meu herói no passado
zu Erb’ und Eigen

por herança e propriedade
an Leut’ und Volk verschenkt,

presenteou ao povo,
als alles er verliess,

quando tudo abandonou,
in fremde Land’ zu ziehn.

para mudar para terra estranha.

TRISTAN
TRISTÃO

In welches Land?

Para que terra?

KURWENAL
KURWENAL

Hei! Nach Kornwall: 12

Para Cornualha,

kühn und wonnig

valente e alegre,
was sich da Glanzes,

onde o brilho,
Glück und Ehren 13

da felicidade e honras
Tristan, mein Held, 

Tristão, meu herói

hehr ertrotzt!

nobremente conquistou!

TRISTAN
TRISTÃO

Bin ich in Kornwall?

Estou na Cornualha?

KURWENAL
KURWENAL

Nicht doch: in Kareol! 32

Não, em Kareol!

TRISTAN
TRISTÃO

Wie kam ich her?

Como aqui cheguei?

KURWENAL
KURWENAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  



(Er schmiegt sich an Tristans Brust)

(encosta-se ao peito de Tristão)

Hei nun! Wie du kamst?

Como o senhor chegou?
Zu Ross rittest du nicht;

Não veio a cavalo;
ein Schifflein führte dich her:

um barquinho o trouxe para cá:
doch zu dem Schifflein

mas para a barca
hier auf den Schultern

aqui sobre os ombros
trug ich dich; 

eu o carreguei;

die sind breit:

eles são largos:
sie trugen dich dort zum Strand.

eles o levaram lá para a praia.
Nun bist du daheim, daheim zu Land:

Agora estás em casa, em casa e em seu país:
35 im echten Land,

no autêntico país,
im Heimatland;

na pátria;
auf eigner Weid’ und Wonne,

nas próprias pradarias e na alegria
im Schein der alten Sonne,

do brilho do velho sol,
darin von Tod und Wunden10

da qual da morte e feridas
du selig sollst gesunden.35

deves feliz curar-se.

TRISTAN

TRISTÃO………………………….1a parte do Delírio de Tristão
(nach einem kleinen Schweigen)

(após um breve silêncio)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Kurwenal birgt, von Grausen gepackt, sein Haupt. Tristan richtet sich
allmählich immer mehr auf)

(Kurwenal, cheio de assombro, cobre a cabeça. Pouco a pouco, Tristão levanta-se)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10 Dünkt dich das?

Você acredita nisso?
Ich weiss es anders,

Vejo de outro modo,
doch kann ich’s dir nicht sagen.

mas não lho posso dizer.
Wo ich erwacht, –

Onde acordei, –
weilt’ ich nicht;

não me detive;
doch, wo ich weilte,

mas, onde fiquei,
das kann ich dir nicht sagen.

não posso lhe contar.
Die Sonne sah ich nicht,

Não vi o sol,
noch sah ich Land und Leute:

nem vi a terra, nem as pessoas:
doch, was ich sah,

mas, o que vi,
das kann ich dir nicht sagen. 32

não posso lhe dizer.
Ich war, wo ich von je gewesen,

Estava onde sempre estive
wohin auf je ich geh’:

e onde irei para sempre:
25 im weiten Reich

no grande reino
der Weltennacht.

da noite universal.
Nur ein Wissen

Só um saber
dort uns eigen:17

lá é nosso:
göttlich ew’ges

divinamente eterno
10 Urvergessen!

o esquecer original!
Wie schwand mir seine Ahnung?1b

Como perdi sua percepção?
Sehnsücht’ge Mahnung,

Advertência saudosa,
nenn’ ich dich,

Eu a chamo,
die neu dem Licht

a que novamente à luz
des Tags mich zugetrieben?

do dia me retirou?
19 Was einzig mir geblieben,

O que unicamente me restou,
ein heiss-inbrünstig Lieben,

um amar ardente,
9 aus Todeswonne-Grauen

de pavor à maravilha da morte
jagt’s mich, das Licht zu schauen,

me compeliu, a olhar para a luz,
17 das trügend hell und golden

que enganosamente clara e dourada
noch dir, Isolden, scheint!17

ainda lhe parece, Isolda!

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

Isolde noch

Isolda ainda está
im Reich der Sonne!

no reino do sol!
17 Im Tagesschimmer

No brilho do dia
noch Isolde!

ainda está Isolda!
Welches Sehnen! Welches Bangen!
Que desejo! Que inquietude!
Sie zu sehen, welch Verlangen!

Por vê-la, que desejo!
17,10 Krachend hört’ ich

Ruidosamente ouvi
hinter mir

atrás de mim
schon des Todes

já da morte
Tor sich schliessen:

a porta fechar-se:
weit nun steht es

agora está ela
wieder offen,

novamente aberta,
17 der Sonne Strahlen

os raios de sol
sprengt’ es auf;

a escancara;
mit hell erschlossnen Augen

com olhos muito abertos
musst’ ich der Nacht enttauchen,

tive que escapar da noite
26 sie zu suchen, sie zu sehen;

para procurá-la, para vê-la;
sie zu finden,

para achá-la,
in der einzig

para nela
zu vergehen, zu entschwinden

esvanecer, desaparecer
Tristan ist vergönnt.1b

seja concedido a Tristão.
Weh, nun wächst,

Oh, como cresce em mim
bleich und bang,

pálido e temeroso,
mir des Tages

do dia,
wilder Drang;

selvagem impulso;
grell und täuschend

luz ardente e enganosa
sein Gestirn

seu semblante
weckt zu Trug

desperta para o engano
und Wahn mir das Hirn!

e loucura o meu cérebro!
17 Verfluchter Tag mit deinem Schein!

Maldito dia com teu brilho!
Wachst du ewig

Vigias eternamente
meiner Pein?

a minha dor?
Brennt sie ewig,

Brilha eternamente,
diese Leuchte, die selbst nachts

esta luz, que mesmo à noite
von ihr mich scheuchte?19

me afastou dela?
Ach, Isolde,

Ah, Isolda,
süsse Holde!

doce querida!
Wann endlich,

Quando finalmente,
wann, ach wann

quando, ah quando
löschest du die Zünde,9

apagarias a chama,
dass sie mein Glück mir künde?

que anuncia minha felicidade?
Das Licht wann löscht es aus?29

A luz – quando apagará?

 

(Er sinkt erschöpft leise zurück)

(recosta-se, exausto e silencioso)

 

 

 

Wann wird es Nacht im Haus?

Quando será noite em casa?

KURWENAL

KURWENAL
(nach grosser Erschütterung aus der Niedergeschlagenheit sich aufraffend)

(recompondo-se, após grande comoção, do desânimo)

18 Der einst ich trotzt’,

A quem então desafiei,
aus Treu’ zu dir,

por fidelidade a ti,
mit dir nach ihr

contigo, por ela
nun muss ich mich sehnen.

tenho que estar saudoso.
Glaub’ meinem Wort:

Creia em minhas palavras:
du sollst sie sehen

deves vê-la
hier und heut;

aqui e hoje;
den Trost kann ich dir geben –

esse consolo posso te dar –
ist sie nur selbst noch am Leben.

caso ela ainda esteja viva.

TRISTAN

TRISTÃO……………….2ª parte do Delírio de Tristão
(sehr matt)

(muito abatido)

Noch losch das Licht nicht aus,

A tocha ainda não se apagou,
noch ward’s nicht Nacht im Haus:

ainda não caiu a noite na casa:
17 Isolde lebt und wacht;

Isolda está viva e atenta;
sie rief mich aus der Nacht.9

sua chamada me arrancou de dentro da noite.

KURWENAL
KURWENAL

Lebt sie denn,

Então, se ela vive,
so lass dir Hoffnung lachen!

deixe que a esperança lhe sorria!
Muss Kurwenal dumm dir gelten,

Mesmo que Kurwenal lhe pareça estúpido,
heut’ sollst du ihn nicht schelten.

hoje não o deve repreender.
Wie tot lagst du

Como morto estavas tu
seit dem Tag, da Melot, der Verruchte,

desde o dia em que Melot, o maldito,
dir eine Wunde schlug.14

o feriu.
Die böse Wunde, wie sie heilen?

Como curar uma ferida tão grave?
Mir tör’gem Manne

A mim, homem ignorante,
dünkt’ es da, 

Ocorreu que
22 wer einst dir Morolds

quem naquela vez
Wunde schloss,14

a ferida causada por Morold curou
der heilte leicht die Plagen,

facilmente curaria as feridas ,
von Melots Wehr geschlagen.9, 19 

causadas com a arma de Melot.
Die beste Ärztin

A melhor curandeira
bald ich fand;

logo encontrei;
nach Kornwall hab ich ausgesandt:

para a  Cornualha enviei:
ein treuer Mann wohl übers Meer

um homem fiel pelos mares para
bringt dir Isolde her.

traz-lhe Isolda para cá.

TRISTAN

TRISTÃO
(ausser sich)

(fora de si)

 

 

 

 

 

(Er zieht Kurwenal an sich und umarmt ihn)

(puxa Kurwenal para si, abraçando-o)

17 Isolde kommt!

Isolda vem!
9 Isolde naht!17

Isolda se aproxima!
O Treue! Hehre,

Oh, fidelidade! Honrada,
holde Treue!
fidelidade sublime!

17, 20, 19 Mein Kurwenal,

Meu querido Kurwenal,
du trauter Freund!

fiel amigo!
Du Treuer ohne Wanken,

Tu fiel sem vacilar,
wie soll dir Tristan danken?

como pode Tristão te agradecer?
12 Mein Schild, mein Schirm

Meu escudo, meu abrigo
in Kampf und Streit,

na luta e disputa,
zu Lust und Leid

no prazer e sofrimento
mir stets bereit:17 

a mim sempre pronto:
wen ich gehasst, den hasstest du;

a quem odiei, odiaste tu também;
1b wen ich geminnt, den minntest du.33

quem amei, amaste tu.
Dem guten Marke,

Ao bom Marke,
dient’ ich ihm hold,

quando o servi fiel,
17 wie warst du ihm treuer als Gold!33

como foste-lhe mais fiel que ouro!
Musst’ ich verraten

Tive que trair
den edlen Herrn,

ao nobre senhor,
wie betrogst du ihn da so gern!

como enganaste-o com prazer!
17 Dir nicht eigen,

Não sendo o teu (o sofrimento)
einzig mein,

somente meu,
33 mit leidest du, wenn ich leide:

sofres comigo, quando sofro:
nur was ich leide;

só que o que sofro;
das kannst du nicht leiden!16

não podes sofrer!
Dies furchtbare Sehnen,

Esta terrível saudade,
das mich sehrt; dies schmachtende Brennen,

que me consome; este ardor dilacerante,
das mich zehrt;

que me destrói;
wollt’ ich dir’s nennen,

quisera eu nomeá-los,
könntest du’s kennen:

poderias sabê-lo:
33 nicht hier würdest du weilen,

não ficarias aqui,
zur Warte müsstest du eilen, –

correrias para a torre, –
mit allen Sinnen

com todos sentidos
sehnend von hinnen

procurando até lá
nach dorten trachten und spähen,

para lá olhando e espiando,
wo ihre Segel sich blähen,

onde suas velas se inflam,
wo vor den Winden,

onde pelos ventos,
mich zu finden,

para me encontrar,
von der Liebe Drang befeuert,

açulada pelo ímpeto do amor,
Isolde zu mir steuert! –

para mim veleja Isolda! –

Es naht! Es naht

Aproxima-se! Aproxima-se!
mit mutiger Hast!17

com pressa corajosa!
Sie weht, sie weht – die Flagge am Mast.

Ela se agita, se agita, – a bandeira no mastro.
Das Schiff! Das Schiff!

O barco! O barco!
Dort streicht es am Riff!

Lá avança pelo recife!

Siehst du es nicht?1b
Não o vês?

(heftig)

(violento)

 

 

Kurwenal, siehst du es nicht?34

Kurwenal, não o vês?

(Als Kurwenal, um Tristan nicht zu verlassen, zögert, und dieser in schweigender Spannung auf ihn blickt, ertönt, wie zu Anfang, näher, dann ferner, die klagende Weise des Hirten)

(Enquanto Kurwenal hesita para não deixar Tristão e este o olha com silenciosa tensão, ouve-se, como no início, mais perto e depois mais longe, a melodia melancólica do pastor.)34

KURWENAL

KURWENAL
(niedergeschlagen)

(abatido)

Noch ist kein Schiff zu sehn!

Não há nenhum barco a vista!

TRISTAN

TRISTÃO………………..3a parte do Delírio de Tristão
(hat mit abnehmender Aufregung gelauscht und beginnt nun mit wachsender Schwermut)

(ouvindo cada vez com menos entusiasmo, e agora começa com crescente melancolia)

Muss ich dich so verstehn,

Assim devo interpreter,
du alte ernste Weise,

antiga e triste melodia,
mit deiner Klage Klang?

com o seu som de lamento?
Durch Abendwehen

Pela brisa vespertina
34 drang sie bang,

ela penetrou temerosa
als einst dem Kind

como quando ao filho
des Vaters Tod verkündet: –

a morte de seu pai anunciou: –
durch Morgengrauen

na luz acinzentada da alvorada,
bang und bänger,

com mais temor ainda,
als der Sohn

quando o filho
der Mutter Los vernahm.

o destino de sua mãe percebeu.
Da er mich zeugt’ und starb,

Ele me gerou e morreu.
sie sterbend mich gebar, –

Ela, morrendo, me deu à luz, –
die alte Weise

a velha melodia
sehnsuchtbang

com temor saudoso
zu ihnen wohl

neles certamente
auch klagend drang,

lamentando, também penetrou,
die einst mich frug,

que então me perguntou
und jetzt mich frägt:

e agora me pergunta:
zu welchem Los erkoren,

a que sorte destinado,
ich damals wohl geboren?

então nasci?
Zu welchem Los?

A que sorte?
34 Die alte Weise

A velha melodia
sagt mir’s wieder:

me diz outra vez:
mich sehnen und sterben!34

desejar – e morrer!
34 Nein! Ach nein!

Não! Ah, não!

So heisst sie nicht!

Não é este seu nome!
Sehnen! Sehnen!

Desejar! Desejar!
Im Sterben mich zu sehnen,1b

Morrendo a desejar,
34 vor Sehnsucht nicht zu sterben!34 

não morrer de desejo!
Die nie erstirbt,34

Ela que nunca morre,
sehnend nun ruft

só chama agora saudosa
um Sterbens Ruh’

pela paz da morte
sie der fernen Ärztin zu. –14

pela distante curandeira. –
Sterbend lag ich

Moribundo estava eu
stumm im Kahn,

calado no barco,
der Wunde Gift

o veneno da ferida
dem Herzen nah:34

próximo ao coração:
Sehnsucht klagend

queixosa e saudosa
klang die Weise;14

soava a melodia;
den Segel blähte der Wind

o vento inflava a vela
hin zu Irlands Kind.34

em direção da garota irlandesa.
14 Die Wunde, die

A ferida, a qual
sie heilend schloss,

ela fechou, curando-a
riss mit dem Schwert

abriu com a espada
sie wieder los;

novamente;
das Schwert dann aber –

a espada então –
liess sie sinken; 4

ela deixou cair;
den Gifttrank gab sie

deu-me a poção da cura
mir zu trinken:

para beber:
wie ich da hoffte

como esperava então
ganz zu genesen,

curar-me totalmente,
da ward der sehrendste

estava então
34 Zauber erlesen:

eleita a magia:
dass nie ich sollte sterben,

que nunca eu devesse morrer,
mich ew’ger Qual vererben!

me doar a tortura eterna!
Der Trank! Der Trank! Der furchtbare Trank!16

A poção! A poção! A terrível poção!
Wie vom Herzen zum Hirn

Como do coração à cabeça
er wütend mir drang!

ela furiosamente penetrou em mim!
Kein Heil nun kann,

Não pode nenhuma cura
kein süsser Tod

nenhuma doce morte
je mich befrein

me libertar em tempo algum
von der Sehnsucht Not;

da angústia do desejo;
nirgends, ach nirgends

em lugar nenhum, ah, em lugar nenhum
find ich Ruh’:34

encontro a paz:
mich wirft die Nacht dem Tage zu,

a noite me arremessa ao dia,
um ewig an meinen Leiden

para eternamente no meu sofrer
der Sonne Auge zu weiden.9,4

o sol alimentar.
O dieser Sonne sengender Strahl,

Oh o raio ardente deste sol,
wie brennt mir das Hirn

como queima-me a testa
seine glühende Qual!

sua tortura abrasadora!
Für diese Hitze34

Para este calor
heisses Verschmachten,

ardente sofrimento,
ach, keines Schattens

ah, sem nenhuma sombra
kühlend Umnachten!

refrescante enlouquecer!
Für dieser Schmerzen

Para essa dor
schreckliche Pein,

terrível sofrimento,
welcher Balsam sollte

qual bálsamo poderia
mir Lindrung verleihn?

trazer-me alívio?
Den furchtbaren Trank,4

a terrível poção,
der der Qual mich vertraut,

a qual me trouxe a dor,
ich selbst ich selbst,

eu mesmo, – eu mesmo,
ich hab’ ihn gebraut!36

eu a fermentei!
Aus Vaters Not

Com a dor do pai
und Mutter-Weh,

e da mãe,
aus Liebestränen

com lágrimas de amor
eh’ und je, –

para sempre, –
aus Lachen und Weinen,

com risos e choros,
Wonnen und Wunden

encantos e feridas
hab ich des Trankes4, 36, 17

consegui da poção
Gifte gefunden!

os venenos encontrar!
Den ich gebraut,

A (poção) que eu fermentei,
der mir geflossen,

que em mim fluiu,
den Wonne schlürfend

que delícias sorvendo
je ich genossen, –

eu então saboreei,
verflucht sei, furchtbarer Trank!34

maldita seja, poção terrível!
Verflucht, wer dich gebraut!

Maldito quem te criou!

(Er sinkt ohnmächtig zurück)

(Ele cai, inconsciente)

KURWENAL

KURWENAL
(der vergebens Tristan zu mässigen suchte, schreit entsetzt auf)

(que tentou, em vão, acalmar Tristão, grita horrorizado)

Mein Herre! Tristan!

Meu senhor! Tristão!
Schrecklicher Zauber!

Magia horrível!
36 O Minnetrug!

Oh! Ilusão do amor!
O Liebeszwang!

Oh! Tirania da paixão!
Der Welt holdester Wahn,

A ilusão mais doce do mundo,
wie ist’s um dich getan!

veja no que o transformou!
Hier liegt er nun,

Aqui está ele agora,
der wonnige Mann,

este homem esplêndido,
der wie keiner geliebt und geminnt.34

que como ninguém amou e adorou.
Nun seht, was von ihm1b

Agora vejam o que dele (Tristão)
sie Dankes gewann, 

Ela (Minne) ganhou como gratidão,
32 was je Minne sich gewinnt!

o que Minne (o amor) conquistou para ele!

(mit schluchzender Stimme)

(com voz soluçante)

 

 

 

 

 

 

 

 

(Er lauscht seinem Atem)

(escuta sua respiração)

 

 

 

Bist du nun tot?

Estás morto?
Lebst du noch?

Ainda vives?
Hat dich der Fluch entführt? 1b

A maldição te raptou?

 

 

 

 

 

O Wonne! Nein!

Que alegria! Não!
Er regt sich, er lebt! –

Move-se, está vivo! –
Wie sanft er die Lippen rührt!

Move suavemente os lábios!1b

TRISTAN

TRISTÃO                           4ª parte do Delírio de Tristão
(langsam wieder zu sich kommend)

(recuperando lentamente a consciência)

Das Schiff? Siehst du’s noch nicht?

E o barco? Ainda não o vês?

KURWENAL
KURWENAL

Das Schiff? Gewiss,

O barco? Certamente,
es naht noch heut’;

ainda hoje chegará;
es kann nicht lang mehr säumen.

já não pode demorar muito.

TRISTAN
TRISTÃO

29 Und drauf Isolde,

E nele vem Isolda,
wie sie winkt,

que acena para mim, –
wie sie hold

que feliz
mir Sühne trinkt:9

bebe em reconciliação:
Siehst du sie? Siehst du sie noch nicht?26

A vês? Não a vês ainda?
Wie sie selig,

Como ela feliz,
hehr und milde

nobre e terna
wandelt durch

vagueia pelas
des Meers Gefilde?

ondas do mar?
Auf wonniger Blumen

Sobre, lindas flores,
lichten Wogen

ondas iluminadas
kommt sie sanft

vem suave
ans Land gezogen.26

para a terra atraída.
Sie lächelt mir Trost

Ela sorri com consolo
und süsse Ruh’,

e doce paz,
sie führt mir letzte Labung zu.

ela me oferece o último deleite.
Ach, Isolde, Isolde!

Ah, Isolda! Isolda!

Wie schön bist du!18

Que bela és!
Und Kurwenal, wie,

E Kurwenal, como
du sähst sie nicht?

não conseguiria vê-la?
Hinauf zur Warte,

Para a torre,
du blöder Wicht!

seu vigilante ineficiente!
Was so hell und licht ich sehe,

O que vejo tão clara e abertamente,
dass das dir nicht entgehe!14

que não te escape!
Hörst du mich nicht?

Não me ouves?
Zur Warte schnell!

Para a torre rápido!
Eilig zur Warte!

Apressa-te para a torre!
Bist du zur Stell’?

Já estás lá?
18 Das Schiff? Das Schiff?

O barco? O barco?
Isoldens Schiff?

O barco de Isolda?
Du musst es sehen! Musst es sehen!

Tens que o ver! Tens que o ver!
Das Schiff? Sähst du’s noch nicht?

O barco? Ainda não consegues vê-lo?

(Während Kurwenal noch zögernd mit Tristan ringt, lässt der Hirt von aussen die Schalmei ertönen. Kurwenal springt freudig auf.)

(Enquanto Kurwenal, ainda hesitante, refreia Tristão, lá fora o pastor toca o seu instrumento. Kurwenal levanta-se de um salto, alegre.)